quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Os reaças vão à loucura com as questões de gênero abordadas pelo ENEM

          UMA MULHER É ESTUPRADA A CADA 11 MINUTOS NO BRASIL, mas estima-se que esse índice seja até 10 vezes maior, haja vista que apenas 10% dos casos de estupro chegam a ser denunciados (por motivos óbvios: medo, vergonha, ameaças). Casos de estupro nas festas universitárias, especialmente de calouros, são recorrentes nas mais diversas instituições de ensino de todo o país. Todos se lembram dos casos de estupro nos trotes da USP, por parte dos alunos veteranos. Igualmente comuns são aqueles nas próprias dependências dos campi, em situações diversas. Não é fato isolado - esse cenário é recorrente na vida das universitárias.

           O Brasil é o 5o país que mais mata mulheres no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde citados no Mapa da Violência. Quase 30% dos feminicídios são ocorridos no lar, o que corresponde ao tripo do índice de assassinatos a homens dentro do mesmo âmbito doméstico. A violência contra a mulher, aquela em que o fato de ser mulher é determinante na perpetração do crime (uma atendente de caixa de supermercado morta a tiros por se recusar a entregar o dinheiro durante um assalto, por exemplo, não configura violência contra a mulher), é diária, independe de classe social e grau de formação - nem da vítima, nem do algoz. 

            O Caso Eloá foi só um dos inúmeros exemplos de mulheres vítimas de violência - em seus diversos níveis - por parceiros ciumentos ou inconformados com o fim do relacionamento. Ex-parceiros que ameaçam e perseguem; psicopatas que ficam à espreita de mulheres andando sozinhas nas ruas; assédios de raiva e lesões físicas cometidas por homens que se sentiram rejeitados. Não é difícil notar que existe uma violência perpetrada especialmente ao gênero feminino, à parte da violência generalizada.





        
          Como se isso não bastasse, também lidamos com a violência não-física: a violência simbólica e psicológica, que podem ser ainda mais perniciosas dada sua complexidade e sua característica de permanecer velada e despercebida conscientemente. A falta de credibilidade em muitos meios acadêmicos e profissionais pelo simples fato de ser mulher; a desonestidade de muitos prestadores de serviço perante nossa suposta ignorância naquele domínio; assédio nos ônibus e locais públicos onde encoxadas (e coisas piores) são comuns; o medo de andar sozinha nas ruas; a objetificação sexual da mulher na mídia; a mulher como enfeite sexual e estratégia para vender qualquer coisa; o condicionamento social perverso que impõe que temos que ser bonitas acima de tudo e que se não nos adequarmos ao padrão de beleza alienante não adianta sermos mais nada; a coerção social para ter filhos, mesmo quando não os desejamos, e a culpa imposta caso seguimos com nosso real desejo; assédio nas ruas, onde ouvimos em voz alta o que o imbecilzão pensa de nosso corpo, como se fôssemos frutas expostas numa prateleira de quitanda à mercê da opinião e apalpe alheios. 

Estar na rua é estar nos holofotes da opinião alheia sobre nosso corpo. 
Todo comentário é agressivo e aviltante, mas velado de "elogio".


Assédio sexual no âmbito profissional são comuns. "Se pegar, pegou".



Mulher objetificada na mídia.


As indústrias de entretenimento e consumo transformando as mulheres em bonecas de pano moldáveis a todo e qualquer requerimento estético. Nunca estar satisfeita com seu corpo - esse é o lema.

A sociedade ensina as mulheres a se protegerem, enquanto deveria ensinar os homens a  não estuprarem. O que resta é viver no medo. 
           
          Mas ainda tem gente que acha que falar em direitos das mulheres é frescura. Pior: indignam-se ao ver "a persistência da violência contra as mulheres" como tema de redação do ENEM. Revoltam-se, mais ainda, com uma questão de múltipla escolha pedindo tão somente que se associasse a obra "O Segundo Sexo" de Simone de Beauvoir ao movimento feminista. Alegam que a prova fez doutrinação marxista e que os organizadores da prova são "feminazis". Outros se incomodam em levantar o tema pois "é necessário falar dos homens também". Restringir-se ao debate da questão das mulheres, alegam, é dar privilégios a elas. 



           Bonecos de ventríloquo da Revista Veja que acham que tudo é doutrinação marxista; Neandertais que ainda vivem entre nós e torcem o nariz para qualquer tentativa de empoderamento da mulher; reaças em geral, simpatizantes de Bolsonaro e afins, entendam uma coisa: a reivindicação pela dignidade humana, seja de qual grupo for, ultrapassa qualquer posicionamento politico e econômico. Falar em direitos das mulheres não é marxismo, petismo, "machismo ao contrário", "feminazismo" ou qualquer outra alucinação que suas mentes insanamente férteis para a imbecilidade poderiam defender. Violência contra a mulher não é brincadeira. Negá-la é, justamente, comprovar sua existência. Sua negação é a violência em si mesma.



Fonte
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/6-dados-que-revelam-a-gravidade-da-violencia-contra-a-mulher

http://noticias.terra.com.br/mundo/violencia-contra-mulher/

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151108_violencia_mapa_brasil_2015_fd?ocid=socialflow_facebook

http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/mulherio/quando-as-universidades-vao-levar-o-tema-do-estupro-a-serio-o-caso-da-ufpr/

http://akina.jusbrasil.com.br/noticias/150973214/alunas-denunciam-estupros-em-festas-da-medicina-da-usp

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/maringa/classe-alta-ainda-esconde-a-violencia-contra-a-mulher-diz-secretaria-c0ffc55x5c24ujp9jm9v7rkge

http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/maringa/classe-alta-ainda-esconde-a-violencia-contra-a-mulher-diz-secretaria-c0ffc55x5c24ujp9jm9v7rkge