terça-feira, 18 de agosto de 2009

Geração anos 90

Em muitas coisas a sociedade está evoluindo, isso é um fato. Alguns aspectos ficam melhores geração após geração; outros, ficam piores. Na realidade, cada geração tem suas peculiaridades, e cabe a cada um pesar os aspectos bons e ruins de cada uma.

Percebo, no entanto, muitas faces desanimadoras da geração que chamo de anos 90. Refiro-me aos adolescentes que estão hoje com 19, 15 anos, cuja faixa etária corresponde a um período de internalização de valores e de intenso consumo. Geração anos 90 é, portanto, o grupo dos que são hoje adolescentes e que tão logo serão adultos.

Muitos parecem ser os lemas dessa geração, mas um muito característico parece ser o de que “não dá nada”. Quantas vezes vocês já não ouviram essa frase de um adolescente? Se a mãe diz: “vá estudar, você tem prova amanhã!”, eles respondem: “ah, não dá nada!”. Se a educação sexual lhes garante que deve-se usar preservativo nas relações sexuais, eles pensam: “ah, não dá nada!”. Se o ideal é não jogar lixo no chão, eles jogam com o pensamento de que “não vai dar nada”. Se o som está alto e o vizinho pode estar incomodado, eles dizem com desdém “não dá nada”.

E isso remete a um outro lema: “o que importa é se divertir”. Na realidade, acho que este é o fundamento do lema “não dá nada”. São tempos de se viver o momento intensamente sem pensar nas conseqüências. O que importa é o eu. O que importa é o que isso traz de bom para si. Se para se divertir eles tiverem que incomodar o vizinho, eles incomodarão. Se para curtirem uma festa com os amigos eles tiverem que deixar certos valores na porta, eles o farão.

A geração anos 90 é, também, a geração das incoerências. Nunca uma geração levantou tanto a bandeira da não-violência, mas fumam um “baseadinho” nos finais de semana, como se isso não provocasse as mortes e a violência que o tráfico faz emergir. Atacam a cultura de “junk food”, boicotando redes como Mc Donald´s, mas tomam anabolizantes e complementos nutricionais totalmente industrializados para potencializar o resultado da academia. Se afirmam como “geração saúde”, mas tomam ecstasy na balada. As mulheres nunca almejaram tanto o trabalho e a independência financeira, mas o primeiro dinheiro que começam a ganhar, juntam para pagar uma cirurgia plástica. Ou gastam praticamente todo o salário mensal em shopping e salão de beleza. Nunca uma geração compartilhou tanto do sentimento anti-imperialismo norte-americano, mas cada vez mais o Brasil se torna cópia dos Estados Unidos, sendo isso claro no que se refere aos padrões de beleza e de comportamento. Escrever errado não é motivo de vergonha para eles; vergonha é ter uma barriguinha. Passar em 1º lugar no vestibular é legal, mas motivo de orgulho mesmo é conseguir ser capa da Playboy. Seguir religiosamente alguma coisa? Só os rituais de beleza.

Um terceiro lema, talvez o mais preocupante, é o de que “cada um sabe o que faz da sua vida”. Eles realmente acreditam que cada um faz o que quiser e ninguém pode meter o bedelho na vida de ninguém. É preciso ter liberdade, é verdade, mas a vida em sociedade se faz possível, primeiramente, pela renúncia de certos instintos individuais que seriam prejudiciais à vida em coletividade. Em segundo lugar, toda ação individual traz conseqüências para a sociedade, por mais pífia que seja esta atitude. Em terceiro, nossos comportamentos e personalidades são moldados pela convivência com os outros. É comum mudarmos de idéia, de valores, de opinião e de atitude porque alguém nos deu um toque que não estávamos na linha certa, ou porque alguém, discordando de nós, nos deu uma luz para refletirmos sobre nossos comportamentos, o que nos faz mudar. Mudar e evoluir. “Meter o bedelho” na vida dos outros às vezes é necessário, nós muitas vezes aprendemos com isso.

Esse lema, ademais, dá margem para o próximo lema: “libera geral!”. Já que cada um está liberado para fazer o que quiser e ninguém pode criticar nada, é proibido ter qualquer preceito moral. A palavra moral assusta. Moral é coisa do passado. Moral, para a nova geração, é sinônimo de moralismo, é coisa de gente careta que acha que pode apontar o dedo pros outros dizendo o que é certo e o que é errado. Ninguém mais pode fazer isso hoje. Criticar qualquer coisa é ser um moralista conservador. Tudo se justifica pela diversão e pelo dinheiro. “Se dá uma boa grana, por que não?!” é o que eles pensam. O senso crítico se dissipou faz tempo, afinal, ter senso crítico é refletir, questionar, criticar. E criticar é proibido. Tem que se aceitar tudo, caso contrário, você é um moralista conservador.

A permissividade exagerada, seja na vida real ou na mídia, é vista com extrema naturalidade, afinal, é a geração dos que, quando crianças, assistiram Banheira do Gugu com os pais nos domingos à tarde. É a geração das meninas que com cerca de 7 anos de idade dançavam “na boquinha da garrafa”, enquanto suas mães achavam a “brincadeira” extremamente simpática e inocente. É a geração das meninas que tiveram Tiazinhas e Feiticeiras como exemplo de mulheres de sucesso.

É a geração do consumismo, do culto neurótico ao corpo, da valorização de coisas superficiais e passageiras. É a idolatria de pessoas vazias. É o ter para ser. É a geração que se entusiasma mais com a votação para o paredão do Big Brother Brasil do que com as votações políticas. É ter como objetivo de vida uma oportunidade de fama na televisão, seja por que motivo for.

Seria fácil e cômodo, todavia, culpar esses adolescentes pelo cenário cultural que temos hoje. Entretanto, eles são apenas reforçadores de uma cultura que fora construída aos poucos por outras pessoas: a geração de seus pais.