segunda-feira, 25 de junho de 2012

Chega de mordomias!

         


          Fico indignada quando vejo casais em que a mulher não paga nada. Desde uma bola de sorvete até a prestação da casa, tudo é responsabilidade do homem em muitos relacionamentos. Todavia, esse protecionismo que a sociedade confere às mulheres não se restringe a isso. Elas usufruem de diversas mordomias aparentemente benéficas para elas mesmas em diversos outros contextos.

          Em casas noturnas, as mulheres pagam valor de entrada inferior ao dos homens, sem contar as entradas livres. Ao contrário de ser um privilégio para as mulheres, o é para os homens, já que a intenção é disponibilizar o maior número possível de raparigas no ambiente, para que assim os homens possam escolher à vontade, tal como fazem com frutas em frutarias. A legislação de divórcio permite à mulher usufruir de pensão do ex-marido, mesmo quando têm condições  para sustentar a si mesma. Inúmeros são os exemplos.

          E isso é ótimo, não? Claro que não. O que ingenuamente soa como um benefício para as mulheres e algo que as valoriza, só, ao contrário, as minimiza. São instrumentos que as mantêm na condição de inferioridade, que as infantilizam, que as isentam de responsabilidades e deveres, que as impedem de crescer.



          O homem ter o dever de pagar a conta do restaurante, consenso ainda irrefutável para muitas pessoas, é o exemplo clássico de um ato paternalista infantilizante visto como um ”ato de gentileza e educação do parceiro” sob os olhares do senso comum. Mas é, na verdade, um ato de manter a mulher – e todas as demais mulheres, conseqüentemente – na estagnação, na infantilidade, na privação do enfrentamento de deveres e responsabilidades.


          Qualquer ser humano só amadurece quando abandona a educação paternalista que o mantém sob os domínios de uma proteção excessiva. É como o ato de educar uma criança: para permitir que nossos filhos cresçam e amadureçam, precisamos incumbí-los de responsabilidades e privá-los de medidas protetoras demasiadas. Eles devem aprender a se vestir sozinhos, fazer a própria comida, arranjar um emprego, enfrentar o mercado de trabalho, sair para o mundo, andar com as próprias pernas. Sair da zona de conforto, enfim.

          Acobertado sob uma criação paternalista e superprotetora, ninguém vai a lugar algum. Todavia, é isto que ocorre com as mulheres, porém durante toda a vida, inclusive – e principalmente - na idade adulta. Elas são resguardadas de diversas responsabilidades, sobretudo as financeiras, sob o disfarce de polidez e gentileza. O que se resguarda, na verdade, é a possibilidade da mulher crescer e exercer sua cidadania plena. Direitos iguais também significam deveres iguais. Não há bônus sem ônus.

          Mulheres, saiam da zona de conforto. Paguem a conta do restaurante, dividam a prestação da casa, façam a baliza sozinhas sem passar o volante a um homem, vão vocês mesmas até o local onde precisam ir sem esperar que o homem seja seu motorista particular. Queiram direitos e, conseqüentemente, deveres. Não queiram mordomias.