sábado, 24 de dezembro de 2011

Tenho medo de gurias alaranjadas

Se tem uma coisa bizarra nesse mundo, é o tal do bronzeamento artificial. Não entendo por que alguém paga para se bronzear artificialmente depositando seu corpo naquela câmara claustrofóbica e assumidamente cancerígena. Pô, isso é Brasil! Nosso país de grandeza continental é quase que inteiramente banhado pelo Oceano Atlântico. E não precisa nem ir à praia pra pegar um solzinho: passe o domingo no parque, se estenda no quintal de casa, sei lá. Não tem desculpa para pagar por isso.

A idéia de ficar trancada dentro de uma câmara de bronzeamento artificial
 me dá tanto medo quanto ser enterrada viva. 

Mas a questão principal não é essa. A questão principal é que a pele bronzeada é uma das maiores imposições estéticas da atualidade. É mais um padrão de beleza que a mídia reforça, por meio de diversos instrumentos, e quem não atende a essa característica é ridicularizado por estar fora dos padrões. Tendo isso em vista, o bronzeamento artificial é mais uma coisa estúpida que as mulheres fazem, mesmo correndo riscos de saúde por isso, para se sentirem adequadas, pertencidas e, claro, bonitas, já que a esmagadora maioria delas está totalmente imbecilizada e realmente acredita que a beleza é a maior fonte de realização de uma mulher. 

Porque o que importa é ser loira, bronzeada e ter peito de plástico.
       Apesar de haver diversos homens que chegam a ter mulheres muito brancas - especialmente as de cabelo escuro - como um verdadeiro fetiche, esse padrão estético, via de regra, é muito rechaçado. Eu, que nunca vi ninguém mais branco do que eu (no máximo tão branca quanto) sei bem o que é isso. Mas eu nunca iria condenar meu tempo, dinheiro e principalmente minha saúde para me adequar a um padrão de beleza.

       Essa decisão é audaciosa, porém. A todo momento recebo os indícios de que estou andando na contramão do que é aceito socialmente. Muitas vezes já ouvi mulheres (morenas normalíssimas, alías) dizendo estarem envergonhadas por estarem tão brancas. Ora, isto dito na minha frente deveria soar como o quê? Um elogio? Toda vez que volto da praia as pessoas me questionam, consternadíssimas, porque não voltei bronzeada. Bem, quando vou para a praia, o faço para aproveitar o mar e nadar. Se for só pra ficar pegando sol, não é mais prático ficar na laje de casa? E não vou nem entrar em detalhes de todas as 57 mil vezes que ouvi comentários na rua sobre minha perna branquela. É “super gostoso” ficar ouvindo críticas sobre sua aparência, de pessoas que você nunca viu na vida, no meio da rua, quando só o que você quer é poder andar com suas pernas descobertas sob um calor de 30 graus. Resumindo: é preciso ter muita atitude e auto-confiança para enfrentar um padrão de beleza e ser você mesma. Mas em tempos de individualidades esmagadas e pessoas padronizadas, ávidas para se sentirem aceitas socialmente e seguir irrefletidamente o que é imposto como normal ou bonito, é raro ver alguém que tenha essa coragem de ser verdadeiro consigo mesmo e respeitar seu biotipo, fenótipo e até etnia.

       É desolador ver como as mulheres –normalíssimas, repito - vivem cercadas de neuras e complexos, especialmente para ir à praia. Os homens, em contrapartida, raramente têm vergonha de seu corpo e, mesmo que o tenham, é em nível muito inferior ao das mulheres. Canso de ver homens cheios de cicatrizes, pernas feias, barrigas imensas, medonhas costas peludas que dispensam cobertores para dormir, dentre outros exemplos, e nem por isso ficam constrangidos. Pelo contrário. Usam roupas que evidenciam suas cicatrizes e formas fora do padrão, vão à praia sem angústia de mostrar o corpo.

Dispensa comentários, né?

Reparem como só homens e crianças entram no mar, enquanto todas as mulheres ficam estiradas na areia. Chega a ser ridículo. Algumas eventualmente entram no mar, mas é muito rapidamente, e apenas para se refrescar e voltar à areia com a sensação de estar queimando mais devido ao sal.

Quando estiver na praia, troque a imagem das mulheres 
                            por esta em sua mente. Dá na mesma.

Certo dia passou na televisão uma matéria sobre bronzeamento artificial (a favor, claro). A apresentadora disse: “quem não quer ficar bronzeada, com essa cor de saúde?” Cor de saúde? Gente, essas gurias praticamente expelem raios ultravioletas! Tem que passar protetor solar pra ficar perto delas! Elas ficam alaranjadas e essa cor não é humana! Como isso pode ser saudável?!

O que a televisão não faz para sustentar um padrão de beleza patético, hein? Não só incentiva uma ferramenta de bronzeamento que causa envelhecimento precoce e câncer de pele (esses "detalhes" nunca são devidamente enfocados nas reportagens), como o associa à esbanjamento de saúde!
Vera Fischer, uma das maiores representantes da gangue
das garotas alaranjadas.
Para a maioria das pessoas, essas mulheres abaixo são muito mais belas... 


Paris Hilton, Fergie e Christina Aguilera.

...do que essas.

Ao centro, Nathália Dill, e em sentido horário:
 Nicole Kidman, Julianne Morre, Liv Tyler e Mayana Moura.



Se você ainda quiser insistir que pra ser bonito tem que ser bronzeado, que é seu “gosto pessoal” e que isso não tem influência externa nenhuma, tudo bem. Mas por favor, não tente dizer que isso....

 
Anne Hathaway após sessão de bronzeamento artificial para o filme "Noivas em Guerra".



parece  mais saudável do que isso...Seria insano. 

Anne Hathaway sendo ela mesma.