quarta-feira, 9 de setembro de 2009

À minha colega anônima que me criticou

Recebi uma crítica em relação ao texto que escrevi sobre algumas fraudes que se intitulam psicólogos. A pessoa, anônima, que me mandou o comentário provavelmente pensou que eu jamais publicaria a crítica, e que ficaria me remoendo de curiosidade tentando descobrir quem foi que escreveu. Bem, estou aqui fazendo o oposto disso: não apenas vou publicar, como vou escrever um texto como resposta ao ataque colando-o na íntegra para todo mundo ler.

O comentário foi o seguinte:

"bruna,esse seu post mostra o quanto você é ignorante acima de tudo, pois acreditar que engenheiros ou farmacêuticos não tenham pensamento crítico é tão ridículo quanto sua neura pelo feminismo. todo extremo é ruim, e você, como psicóloga, deveria saber que isso representa algum problema SÉRIO dentro de vc mesma. em vários posts vc volta a citar a história do funk no baile, mais uma vez por um problema psíquico SEU, pq isso representa o quanto a sua neura te impede de se divertir. quem se diverte é taxado então por você como moralista conservador. vai se tratar guria, dá medo de vc atendendo pacientes, sério mesmo".

Em primeiro lugar, quero dizer que aceito críticas e opiniões, mas a pessoa deve dizer quem é. Isso é uma questão de maturidade e de ética. Eu expresso aqui minhas opiniões, faço críticas a inúmeras coisas, mas assino meu nome embaixo e ainda coloco minha foto. E esse princípio não é uma mera opinião pessoal, pelo contrário, ele consta até na Constituição Federal de 1988, e te dou as coordenadas para conferir:

Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos:

Art. 5º, inciso IV: “é livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato”.

Ou seja, você pode falar o que quiser, contanto que se identifique. E não adianta colocar um nome fictício, quero nomes e sobrenomes verdadeiros que eu reconheça.


Bem, vamos analisar a crítica passo a passo.

Você disse: "esse seu post mostra o quanto você é ignorante acima de tudo, pois acreditar que engenheiros ou farmacêuticos não tenham pensamento crítico é tão ridículo quanto sua neura pelo feminismo.”
Você, que fez Psicologia, já deveria saber que os valores e as aptidões das pessoas determinam a escolha da profissão. A pessoa que acha que o dinheiro é o primordial, e que pensa que o importante é “ganhar bem” e não “fazer o que gosta”, não vai fazer um curso como Geografia, por exemplo. Uma pessoa que adora debater sobre assuntos da sociedade, e se aprofunda no assunto, não vai querer ter um trabalho em que ela fica o dia inteiro montando circuitos eletrônicos. Uma pessoa que tenha talento pra música, mas que se importe muito com o status social,vai procurar um curso que lhe confira esse status (como Medicina ou Direito, por exemplo), por mais que não tenha a ver com seu talento. O engenheiro (e uso essa profissão apenas como símbolo de profissões em que não se usa o pensamento analítico e reflexivo para o exercício de tal ofício) geralmente não tem o senso crítico que pessoas da área de Humanas têm (e é justamente por isso, também, que ele vai procurar um curso em que ele não precise ter esse senso crítico) assim como a pessoa que não entende nada de matemática vai procurar um curso em que ela não use esse tipo de conhecimento. Em contrapartida, quem faz um curso de humanas, geralmente, não tem habilidades para a área do raciocínio lógico e abstrato, e muitas mal conseguem resolver um sistema de equações. Não é ofensa. É uma questão de aptidão, de habilidade. E isso é senso comum, não precisa nem ter estudado Orientação Profissional pra perceber isso. E doa a quem doer, isso é um fato. Essa é minha visão sim pois, se pessoas que durante 5 anos estudaram diversos filósofos e diversas teorias do comportamento continuam bitoladas e com comportamentos padronizados, imagine então quem ficou esse mesmo período de tempo tentando achar o valor de x.

“(...)é tão ridículo quanto sua neura pelo feminismo.”
Essa sua visão não me espanta, afinal, para pessoas cujo lema é “viver o momento sem se preocupar com nada, o que importa é se divertir”, ter qualquer engajamento e/ou defender seus ideais com veemência, significa “ter neuras”. Pra pessoas como vocês, o ideal é “fechar os olhos pras coisas que precisam ser mudadas e fingir que o mundo está lindo do jeito que está”.


“quem se diverte é taxado então por você como moralista conservador”.
Eu não sei se você se expressou mal, ou se é incapacidade de interpretar um texto mesmo. Reli a frase várias vezes para tentar entender qual das duas alternativas era. Bem, já que você, pelo visto, leu todos os meus posts, você viu que eu toquei nesse assunto no texto “É proibido proibir” que, aliás, foi o texto que eu mandei a vocês nos emails da turma após a formatura. Eu disse (e bem claramente) que as pessoas hoje em dia não sabem mais diferenciar o que é ser um moralista conservador e o que é ter senso crítico. E que, para essas pessoas, tudo se justifica pela diversão e pelo dinheiro, e que quem critica qualquer coisa (ou seja, quem tem um posicionamento crítico) é taxado de moralista conservador. Em momento algum eu disse que quem se diverte é um moralista conservador; é justamente o contrário disso. Não foi uma idéia complexa de se entender, e até um aluno da 7ª série entenderia.


“em vários posts vc volta a citar a história do funk no baile”
Você tentou disfarçar, mas aqui não conseguiu esconder que é uma colega de turma minha. E, como eu disse, você provavelmente leu todos os meus textos (Curiosidade mata...).E, pra sua informação, eu só mencionei a história do funk no baile nesse texto do “É Proibido Proibir”. No texto “O preço da diferença” eu mencionei algo sobre não gostar de dançar, mas não estava me referindo ao funk do baile. Eu estava me referindo a qualquer tipo de dança e, segundo a idéia no texto, todo mundo que é diferente (leia-se “que tem personalidade” e não faz o que está todo mundo fazendo) paga um preço por isso. Um dos exemplos, ademais, foi o de não gostar de dançar ( e que as pessoas que não gostam de dançar têm sempre que ficar se protegendo dos outros que ficam tentando arrastá-las pra pista de dança), afinal, na visão de pessoas com comportamento padronizado, quem não gosta de dançar é um alienígena.


“pq isso representa o quanto a sua neura te impede de se divertir”
Eu me divirto, e muito. Acontece que o meu conceito de diversão é completamente diferente do seu. O seu conceito de diversão é fazer o que está todo mundo fazendo, afinal, quem diz “não” a qualquer coisa e assim se mantém autêntico e coerente, é um chato. O seu conceito de diversão é fazer até o que não faria normalmente, afinal, "é festa" e "em ambientes festivos não se precisa manter os valores se as pressões do grupo assim o exigirem". O seu conceito de diversão é dançar simulando sexo anal na frente de toda a família e, para pessoas como você, quem não faz isso é porque tem um problema psíquico que a impede de se divertir. Que valores mais assustadores. E, felizmente, eu aprendi em casa que não preciso arregaçar o rabo na frente dos meus avós para estar me divertindo.


“vai se tratar guria, dá medo de vc atendendo pacientes, sério mesmo.”

No meu texto sobre as fraudes de psicólogos, a minha teoria era a de que algumas pessoas não tinham condição ética e crítica para atender pessoas. E você quis devolver a mesma idéia pra mim. Só fico com pena, pois não conseguiu nem inventar um argumento novo; teve que imitar o meu.

E por fim: esse blog é meu e eu escrevo o que eu quiser. Quem não gosta que vá ler revista Caras.