quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Europe em São Paulo – o melhor show até agora



O dia 05 de novembro de 2010 ficará em minha memória para sempre porque foi o dia em que fui para São Paulo para assistir ao show do Europe. Foi uma apresentação única e pela primeira vez no Brasil desta magnífica banda de hard rock cujo trabalho é pouco conhecido até pelos amantes do gênero (eu mesma, que sou “farofeira” assumida desde os 12 anos de idade, só fui dar a devida atenção a eles há pouco mais de 3 anos). São deles algumas das músicas mais conhecidas deste planeta: “The Final Contdown” e “Carrie” (esta última, hoje, até virou música de supermercado), mas certamente as 3 décadas de carreira lhes garante inúmeros sucessos, muito melhores até do que estes dois clássicos que os consagraram.

Como adoro a banda, fiz alguns sacrifícios para ir vê-los: trabalhei no feriadão de finados para poder folgar na sexta, abri mão dos shows do Kip Winger, que seria em Ribeirão Preto, em outubro, e do Creedence, que aconteceria aqui em Curitiba em novembro. Mas isso não era nada em comparação com o que estava por vir.

Chegando em São Paulo ao meio-dia, enfrentamos o já esperado engarrafamento tipicamente paulistano. “É porque é hora do almoço”, pensamos. Uma hora e meia depois estávamos chegando no hotel. Depois dessa, prometi que nunca mais xingaria ninguém nos congestionamentos de 15 minutos (!) da Avenida das Torres às 07h30.

Tentando fugir do trânsito das 18h, saímos do hotel às 20h para chegar ao HSBC Brasil às 22h. Ficamos parados num congestionamento absurdo na Rua da Consolação (rua que, justamente por isso, proporciona qualquer sentimento, menos consolação) e no túnel Fernando Vieira de Melo até às 21h45. O mar de carros não tinha fim, e se às 21h45 ainda estávamos presos num túnel que ficava na metade do caminho, daríamos sorte se chegássemos para ver as últimas 3 músicas. Foi então que tomamos uma decisão muito porca, porém inevitável naquelas circunstâncias: fomos mais da metade do trajeto pela canaleta do ônibus (aquela cercada de enormes placas escrito “SÓ ÔNIBUS”). Foi apenas por causa disso que, mesmo enfrentando aquele congestionamento absurdo de 2 horas (para percorrer menos de 10 km) às 9 horas da noite, conseguimos chegar às 22h15. Cinco minutos depois o show começara. Muita sorte.

O que mais me chamou a atenção no show foi a quantidade – pequena, porém significativa – de mulheres. Aqui em Curitiba estou acostumada a ser sempre uma das únicas quinze mulheres nos shows, por isso estranhei ver cerca de 10% de público feminino. É claro que muitas não eram roqueiras e estavam ali só para acompanhar o namorado. A própria guria que estava na minha frente era uma dessas, e ficava me impedindo de ir mais para frente (embora ainda tivesse um espaço considerável para ocupar) porque, na visão dela, show não é lugar para pular, cantar e gritar junto. Era daquelas mulheres que saem de um show cheirando a sabonete. Como há algum tempo perdi a tolerância com mulher fresca e não meço mais as palavras – nem atitudes- quando acho necessário, falei bem alto, num intervalo entre músicas, na direção de seus ouvidos: “essas pagodeiras vêm aqui só para acompanhar o namorado....Nem conhecem a banda!”. Curiosamente, quando a banda voltou a tocar a próxima música, ela começou a dar uma “remexida” no corpo, fingindo que estava curtindo. É claro que não conseguiu fingir por mais de 30 segundos. Sua apatia perante o show conseguia fazer com que ela estivesse a poucos metros de uma das melhores bandas desse mundo, com cara de quem está assistindo novela. Com exceção dessas, havia sim algumas mulheres que estavam lá porque gostavam da banda, e que realmente conheciam as músicas. Elas cantavam junto e realmente sabiam as letras, não ficavam apenas balbuciando qualquer coisa como a maioria das pessoas faz quando tem que cantar o Hino Nacional.

Essa é uma questão relevante porque tem tudo a ver com as questões de gênero que discuto. A escassez de mulheres roqueiras – ou alternativas, em linhas gerais- tem tudo a ver com a questão cultural da feminilidade. A imbecilização provocada na população em geral (em peso propiciada pela mídia) aparentemente tem seus efeitos mais devastadores nas mulheres, as quais passam a acreditar que, para serem femininas, tem que ouvir axé, só usar roupa de academia (para qualquer situação), ser fútil, fresca, bonequinha de luxo (ou inflável, no caso das siliconadas). Essa relação da música com a identidade de gênero, aliás, rende assunto para um texto só sobre isso, e certamente o farei mais adiante.

A maioria absoluta ainda era homem, obviamente. Mas foi o show de rock com o maior número de mulheres que já vi. A dúvida que me ficou, foi: as mulheres se atraem pelo Europe por causa da romântica “Carrie”, ou as paulistanas são menos pagodeiras/sertanejas/frescas/odiaboaquatro que as curitibanas e por isso estão em maior peso no cenário rock? Acho que é um misto dos dois, mas acredito muito na segunda hipótese.

Apesar dos percalços que tornaram minha viagem semelhante ao filme “Detroit Rock City” (filme que mostra a aventura de um grupo de adolescentes para assistir a um show do Kiss), certamente valeu muito a pena. A sonoridade perfeita, o profissionalismo da banda, a potência de voz, o carisma (e a beleza!) de Joey Tempest superam qualquer coisa. Não me arrependo de um minuto sequer que levei para vê-los, tampouco das multas que provavelmente estarão chegando em minha residência em breve. Mas espero que eles passem por Curitiba da próxima vez, pois só enfrentarei São Paulo e seu trânsito caótico novamente se for pelo Gary Moore. Afinal, “é Deus no Céu e Gary Moore na Terra”.