domingo, 19 de maio de 2013

Agressividade Virtual

         


          Acredito que todos já presenciaram algum episódio do que chamo de “agressividade virtual”. Isto acontece quando alguém exprime alguma opinião na internet, em especial nas redes sociais, e muitos outros se unem para contrariar o que a pessoa propôs, em caráter extremado de humilhação e retaliação.

          A pessoa pode ter defendido uma opinião plausível ou realmente questionável; pode ter tecido comentários sobre algo simples ou complexo; ter se pronunciado sobre algo banal ou de cunho ideológico. Todas as situações, entretanto, compartilham de uma mesma semelhança: o que foi dito não justifica a magnitude da represália recebida.



          Tal represália caracteriza-se pela agressividade desmedida, pelo sarcasmo cruel, destrato maldoso e arrogância desnecessária. Várias pessoas – desconhecidos, inclusive - se juntam, unidos por uma agressividade primitiva, com um único objetivo: atacar, crucificar, retaliar de forma descomedida alguém que pense diferente.

          As pessoas se sentem confortáveis para degladiar outras pela simples proteção de uma tela de computador. Nem mesmo as redes sociais, onde é cada vez menos possível permanecer anônimo – as quais nos informam quantos amigos temos em comum com tal pessoa, que revelam nossos nomes e fotos, onde trabalhamos e como passamos nosso tempo livre –, são capazes de segurar a máscara que diferencia nossas atitudes dentro e fora do mundo virtual.



          O – pouco – anonimato que a internet provê é suficiente para aflorar uma agressividade incomensurável, um ódio primitivo, um desejo sangrento de promover a discórdia e a vontade de “ver o circo pegar fogo”. A questão é: as pessoas não se transformam; elas são aquilo.

          Essa condição, analogamente, se estende ao mundo “real”. As pessoas que se envolvem em tais discussões virtuais extremadas são as mesmas que mostram o dedo do meio quando recebem uma buzinada, mesmo quando estavam de fato erradas; que descem do carro prontas para brigar pois levaram uma singela “fechada” no trânsito; ou aquelas que, brutalmente enraivecidas, xingam o atendente do caixa apenas porque receberam o troco errado.

         Quando presenciamos algum destes episódios, nos inquietamos com as reações desproporcionalmente agressivas e violentas dos envolvidos, e agradecemos por não convivermos com pessoas assim em nosso meio de convívio. O intrigante, contudo, é o fato de que esses protagonistas são de fato as pessoas com quem convivemos, com quem dividimos o elevador, com quem compartilhamos a fila do supermercado, e em quem damos tapinha nas costas. É o colega de turma, o morador ao lado, o parente, o amigo. Ou, no pior dos casos, é aquele que o espelho reflete à nossa frente.