sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Gripe suína é a bola da vez


Eu sempre percebi que as pessoas são marionetes da mídia, mas achava que essa condição se referia principalmente aos padrões de normalidade, beleza e música. Com essa história de gripe suína estou vendo que a condição de fantoches a que a sociedade está submetida vai muito mais além.


Tá certo, existe um vírus novo e mais de 200 pessoas já morreram no Brasil. Mas não é qualquer resfriado que te coloca na lista de pessoas com a nova gripe. Na esmagadora maioria das vezes, a gripe é apenas uma gripe comum. Eu mesma peguei uma gripe lazarenta semana passada, e sabia que não havia motivos para me desesperar. Não deu outra: ela já passou e eu estou aqui, vivinha da Silva.


As pessoas não saem mais às ruas, andam de máscara, passam neuroticamente álcool em gel nas mãos de 5 em 5 minutos, se afastam atemorizadas de quem dá a mais tímida tossida, como se fosse sair um alienígena da boca da pobre coitada da pessoa que tossiu. Se disserem no Jornal Nacional que comer cocô faz bem pra gripe, as pessoas vão comer.


E isso tudo tem a ver com ser fantoche da mídia simplesmente porque as pessoas só estão neuróticas em relação a essa nova gripe porque é a televisão que está colocando na cabeça delas que elas devem ficar neuróticas com isso. Existem muitas outras doenças muito piores que a gripe suína e ninguém tá nem aí. Ninguém ta nem aí porque não tá passando na televisão no momento.


O câncer de pulmão causa muito mais mortes e mais sofrimentos aos pacientes, e milhares de pessoas estão por aí fumando adoidado e, pior ainda, obrigando os não-fumantes a fumar passivamente. A AIDS é uma epidemia muito mais alarmante, e tá todo mundo transando com todo mundo sem camisinha, com aquele discurso narcisista de que “comigo não vai acontecer” ou, pior ainda, “eu confio nele”.


Se prevenir da gripe suína é preciso. Não há dúvidas. Tomar as medidas necessárias (e sensatas) como lavar sempre as mãos, não passar a mão nos olhos, deixar os ambientes ventilando, etc, é uma necessidade real. E a televisão está certa em mostrar isso para as pessoas. Mas o que não está certo é as pessoas só lembrarem das doenças (ou de qualquer outra coisa) quando falar delas estiver na moda. Não é porque é a gripe suína a manchete da vez que temos que pensar que ela é a única doença que existe no momento. Não podemos esquecer que existem muitas outras doenças, de prognósticos muito piores. Devemos nos vigiar, portanto, para não cairmos na tendência de só nos lembrarmos ou de só refletirmos sobre coisas depois que passar um especial sobre elas no Fantástico.