segunda-feira, 16 de maio de 2011

Falta amor...e desacordo também.



Muito se fala que a vida em sociedade está penosa devido ao individualismo das pessoas, a falta de respeito, o descaso para com os outros. Falta, enfim, amor. Em contrapartida, também nos falta o seu oposto: o desacordo. 

O que defendo como desacordo, vale ressaltar, não é o mesmo que discórdia ou desavença, mas a contestação, o debate. Em textos anteriores eu venho discorrendo sobre a incapacidade das pessoas em serem críticas, transgressoras, autênticas, seja em que contexto for.
             Existe uma névoa de “bundamolismo” assolando as pessoas na mesmice, nos modismos, na concordância forçada para não se indispor com ninguém. Isso é bem característico de nossa cultura. As pessoas não foram ensinadas a debater. Quando eventualmente insurge um debate, a maioria não sabe como se portar. Tendo isso em vista, muitos pensam que debater é brigar. Quando se entra em alguma discussão, ou surgem aqueles que tentam “jogar panos quentes” em cima, ou aqueles que levem o debate para o lado pessoal. Daí certamente sairão brigas.

Mesmo os que, eventualmente, têm a coragem de criticar alguma coisa, logo ao final da frase complementam: “nada contra quem gosta....” ,ou “nada contra quem faz...”. Na página inicial do hotmail, dia desses, apareceu uma notícia (notícia!) que uma atriz global havia dito que se orgulhava de não ter feito nenhuma plástica, que achava desnecessário, e que os homens gostam de mulheres naturais. Mas complementou dizendo que “é claaaaro que não tinha nada contra quem faz”. Essa é uma ótima forma de dar sua opinião mas, ao mesmo tempo, tentar ser o mais imparcial possível para não suscitar a antipatia das pessoas que se encaixam de alguma forma no que foi dito. É uma maneira de sair pela tangente, de se proteger, de dizer algo e praticamente desdizê-lo logo em seguida. 

           Em plena era do Twitter, diversas vezes já abri a página de notícias (de novo, notícias!) e lá constava: “Fulana desabafa no Twitter e causa polêmica”, “Fulano diz o que pensa sobre determinado assunto e causa grande repercussão”, dentre outros. Ok, alguns comentários são realmente inadequados e merecem repúdio, que o diga Mayara Petruso, por exemplo. Mas a maioria das polêmicas gira em torno de opiniões inofensivas que não deveriam provocar a fúria dos internautas. Mas causa. Causa porque expressar qualquer tipo de opinião – que não seja a opinião da massa, claro – causa retaliação. 

Grande exemplo foi o caso do Sylvester Stallone, que causou polêmica em 2010 ao dizer que “Você pode explodir o país inteiro e eles vão dizer ‘obrigado, e aqui está um macaco para você levar de volta para casa’”, sarcasticamente descrevendo a postura dos brasileiros em relação às filmagens de seu filme no Brasil. Sinceramente, não vi problema algum nesse comentário. Afinal, ele só retratou como as pessoas aqui são humildes e ficaram felizes (para não dizer bobas) porque um grande filme foi filmado aqui. Aliás, todo mundo sabe que brasileiro paga pau pra gringo, principalmente se o gringo for ator famoso. Se o povo paga pau pra ator da “Malhação”, quem dirá pra ator de Hollywood!!!

Eu, particularmente, acho extremamente irritante conversar com pessoas que tentam jogar panos quentes nos momentos em que você está ávido por um diálogo mais intenso. Essas pessoas, via de regra, são aquelas que tendem a levar tudo na brincadeira, não sabem conversar sério sobre nada e fogem das situações em que a conversa se envereda para um nível mais profundo. E como há pessoas assim! 

Que se proliferem aqueles que nos desafiam intelectualmente, que incitam debates e novas idéias!Que se abra o espaço para darmos opinião sem precisarmos controlar nossas palavras como se estivéssemos pisando em ovos! Que possamos discutir sem levar para o lado pessoal! Que venha o desacordo, enfim!