sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A arte de almoçar sozinho

         
         Se há algo que inquieta muita gente, é almoçar sozinho no intervalo do expediente de trabalho. É notável a apreensão de muitos quando a hora do almoço se aproxima. “Por favor, me espere porque vou me atrasar para sair”; “coitado do Fulano, almoça sozinho”; “não vá sem mim, já estou quase saindo”; “Fulano está em reunião, Beltrano em uma ligação e Cicrano terminando um relatório. Não acredito que terei que almoçar sozinho!”, queixam-se muitos, amargurados por um medo quase infantil.

          Tá certo, é divertido almoçar com amigos ou colegas. É agradável botar o papo em dia com aqueles que admiramos. É relaxante compartilhar momentos de lazer. O instinto gregário é traço marcante do ser humano e por isso o alegre sentimento de conforto nos devora quando estamos entre nossos pares.

          Para muitos, entretanto, o pavor da idéia de almoçar sozinho remete a um medo mais profundo e existencial: o medo da solidão. É a incapacidade de fazer as pazes com seu próprio eu, de enfrentar seus medos, de aceitar seus desejos genuínos, de reconhecer suas fraquezas. É a dificuldade de despertar para si mesmo, de atingir o esclarecimento sobre as questões interiores. É a impossibilidade de experienciar a serenidade e a quietude de estar consigo mesmo e deliciar-se com a companhia mais sincera que pode haver.

         Tolos aqueles que alegam que solidão é depressão e escuridão. Perspicazes aqueles que, ao contrário, encontraram-se em si mesmos e descobriram que a solidão, na verdade, é a fonte da iluminação. Virtuosos aqueles que amam-se e não mais tentam evitar a si mesmos. O relacionamento interpessoal é enriquecedor, é verdade. Mas o real engrandecimento ocorre quando aprende-se a conviver consigo mesmo.

          Na contemporaneidade, aparências valem mais do que essências. Sob esta lógica, o dispêndio de energia direcionado ao interior não é reforçado. Sendo assim, não é raro encontrar aqueles que fogem de si mesmos e para os quais o maior estranho vive dentro de si. Também não é difícil decifrar o comportamento de alguém que acua-se atemorizado diante da possibilidade de almoçar sozinho. Ele está, muito provavelmente, apavorado demais com a idéia de passar tempo com seu maior desconhecido: si mesmo.