sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quando é o desejo feminino que está em pauta

          É muito fácil irritar um homem: domine o controle remoto da televisão, obrigue-o a se alimentar apenas de arroz integral e hortaliças, impeça-o de assistir à final do Brasileirão. Mas nada é tão eficaz quanto contemplar imagens de homens sensuais.

Homens saindo deste blog em 3,2,1...


Um Gianecchini incomoda muita gente.






Muitos homens escondem que curtem a banda Skid Row porque o vocalista Sebastian Bach era considerado um símbolo sexual.

Nenhum homem tolera brincadeiras como essa em sua página inicial do facebook.


         Os homens demonstram extremo desconforto quando algum instrumento de comunicação, por alguma razão, coloca o desejo feminino em evidência. Propagandas de cueca, galãs de novela, cantores considerados símbolos sexuais os embaraçam e irritam sobremaneira.


É assim que a banda toca. Às avessas.


          As imagens acima incomodam os homens. Em outras palavras, eles se sentem desconfortáveis quando é o desejo feminino que está em pauta. Mas a questão é: é desta forma que a sociedade se orienta, porém ao contrário. É sempre o desejo masculino que está em evidência. Deparar-se com fotos como as acima, porém ilustrando a beleza feminina, faz parte do dia-a-dia das mulheres.

          As mulheres são obrigadas a conviver com a exploração de sua imagem, cuja finalidade é tão somente satisfazer os desejos sexuais masculinos, nas mais diversas formas de expressão cultural. Capas de revistas, aberturas ou o próprio conteúdo dos programas de televisão, propagandas turísticas, calendários, etc. Pense no que quiser: quase tudo é, de alguma forma, orientado ao desejo masculino. Quase tudo é feito pelos homens, para os homens.


Sites sérios como o Portal IG informam sobre os destinos turísticos que abrigam mulheres bonitas. Mulheres, não esperem que façam o mesmo por nós.



Aquelas bailarinas são relevantes para alguma outra coisa além de servir como objeto sexual?


Comerciais de cerveja são descaradamente direcionados aos desejos sexuais dos homens, independente do fato de as mulheres também consumirem o produto.




Até as aberturas de alguns programas se preocupam em atender aos desejos masculinos.

         Alguém já viu alguma matéria sobre os destinos turísticos com os homens mais bonitos? É claro que não. Isso interessaria às mulheres e o que elas desejam nunca está em pauta. O que importa, e sobre isso há várias matérias, é descobrir os locais onde as mulheres são bonitas. Porque, claro, o que importa é o que é bom para os homens, sempre.

          Desconheço o homem que permita que sua esposa ou namorada visite sites de fotos sensuais masculinas, ou que não a interrompa por contemplar imagens de homens belíssimos sem camisa. Em contrapartida, os homens sentem-se no direito natural, quase divino, de se reunir com os amigos para jogar truco usando baralho com fotos de mulheres nuas; assistir a programas chulos que camuflam sua pornografia barata como sendo “humor” (Pânico na TV, Zorra Total e afins); assinar (!) Playboy, sem a menor angústia. “Eu gosto disso e ela tem que aceitar”: não é assim que a maioria deles pensa?

          Mesmo as revistas de nu masculino são feitas para homens (gays). Nem nestes casos a mulher é atendida. Ela não é o público-alvo, e é evidente que o desejo feminino não é o foco da revista. Seu desejo sexual simplesmente não interessa à indústria de entretenimento.

          Muitos defendem –usando um pueril reducionismo biológico - que revistas do gênero não são feitas especialmente às mulheres pois elas, naturalmente, não se estimulam por instrumentos meramente visuais. Por que é tão difícil cogitar a hipótese de que isso poderia ser apenas mais uma construção social, já que esse estímulo nem sequer é oferecido? Como afirmar com tanta convicção que a demanda feminina por isso é inexistente ou é desprezavelmente pífia, se o produto ainda nem existe?



Mais uma vez, isso é destinado aos homens.
   
          É evidente que não pretendo que os homens passem, juntamente com as mulheres, a serem reduzidos a um mero objeto sexual. Tampouco planejo que tal redução passe a ser aplicada apenas a eles, e não mais às mulheres. Não defendo que a solução seja trocar o sujeito da exploração midiática no que concerne à sexualidade. É plenamente possível contemplar a beleza e a sensualidade sem cair num exagerado reducionismo sexual. Ademais, a questão primordial é que o direito e as opções para o exercício da sexualidade são desiguais.

Aos poucos elas começam a serem ouvidas.

          Muitos ainda podem alegar que já há, sim, razoável ênfase na vaidade masculina. Sendo assim, os homens estariam começando a se preocupar com o desejo da mulher e fazer sacrifícios – em sua aparência e comportamento - para atendê-lo.

          É um fenômeno crescente, de fato. Contudo, são apenas gotas desorientadamente espalhadas em um imenso oceano; um oceano orientado a atender tão somente ao desejo masculino. Tal é a razão para os homens ficarem tão alvoroçados quando um homem sensual está em evidência. Eles estão (mal) acostumados demais a ter a sociedade sempre mantendo seus desejos em foco.