A sociedade, via de regra, é indelével em marginalizar e subjugar aqueles que não estejam alinhados às suas formas de conduta dominantes. São os “estranhos”, os “loucos”, os “chatos”, descrevem os perfeitamente ajustados. Independente do termo que escolhem, todos eles denominam, dentre inúmeros exemplos, aqueles que não pulam carnaval; que não assistem novelas; que dispensam uma partida de futebol; que conseguem economizar, mesmo ganhando pouco; que sabem – e gostam de – contemplar a solidão; que preferem ficar na cidade do que passar o feriado – quase sempre chuvoso - no litoral e passar mais tempo em filas do que efetivamente no mar; que preferem ficar “cuidando das bolsas” à dançar músicas sofríveis em festas bregas; que não curtem os artistas medíocres e efêmeros que estão “bombando”, cujas carreiras duram menos do que qualquer romance entre celebridades.
O conceito de comportamento desviante só é possível a partir de seu contraponto, isto é, o conceito de normalidade. Este, por sua vez, é inegavelmente construído de acordo com o contexto histórico/social/político/econômico.
Ora, o padrão de beleza feminino, há poucos séculos, era ser gorda. A atitude louvável de um jovem rapaz, há poucas décadas, era continuar ajudando sua família com o trabalho na lavoura. Hoje, é sair de casa para estudar Direito, Engenharia ou Medicina.
O padrão de beleza feminino na Idade Média e hoje: quem seria o louco em cada época?
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Pois pergunto-me: como acatar o conceito de “esquisitice” criado por uma sociedade cuja própria sanidade é questionável? Uma sociedade egonarcísica, que não tolera os que tentam passar despercebidos; que recrimina os calados e vangloria os que não param de falar e, ao mesmo tempo, não falam coisa alguma; que é incapaz de contemplar a música, não a utilizando para um fim em si mesma, mas sim como mera trilha sonora de cachaçadas e “pegações”; que tenta ensinar respeito e igualdade, mas até para escolher cachorros se baseia em beleza e raça.
Uma sociedade cujos jovens reclamam não conseguir um bom emprego por não falarem inglês e não terem dinheiro para fazer tal curso, mas que pagam o equivalente para freqüentar a academia de musculação; cujos pais presenteiam suas filhas de 08 anos de idade com um par de salto alto, e as de 18 com um par de silicone.
Uma sociedade de pessoas que se enchem de drogas e entorpecentes, mas continuam vazias; que bancam maravilhosas viagens à praias paradisíacas e se fotografam em meio a virtuosos monumentos históricos, mas continuam pobres culturalmente; que compram uma televisão de LCD de 40 polegadas para assistir “Domingão do Faustão”; que trocam de carro todo ano, mas que não conseguem pagar o IPVA; que tentam aplacar a angústia – física ou mental – com medicamentos que amortecem os sentidos e o saber; que envelhecem suas peles com exposição solar – real ou artificial – excessiva e, anos depois, correm atrás de tratamentos dermatológicos rejuvenescedores; que tem na televisão seu maior ditador de opiniões, gostos e comportamentos, sem ao menos perceber; que escondem seu verdadeiro eu atrás de máscaras para não sofrerem retaliações; que casam-se sem amar pois “chegou a hora”.
Cada sociedade, cada século, cada paradigma, enfim, elege seus loucos. Em qualquer um destes contextos, entretanto, mudanças e progressos sempre foram possíveis graças àqueles que ousaram pensar “fora da casinha”, que não se acomodaram ou se conformaram com o que quer que seja.
Pois se você é um estranho, louco, chato, regozije-se! Como perfeitamente esclareceu o pensador indiano Jiddu Krishnamurti, “não é sinal de saúde ser ajustado a uma sociedade profundamente doente”.
Maravilhoso, penso muito parecido não a nada melhor que questionar o padrão , e ver a falacia disso , parece que sai um piano de suas costas questionar é simplesmente libertador continue assim.
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