A primeira
profissão que quis ter, ainda quando criança, foi a de comissária de vôo.
Abandonei a idéia conforme fui crescendo, mas no fundo sempre mantive a mesma atração
por este trabalho. Na verdade, até hoje, quando me deparo com um destes
profissionais, sinto um friozinho na barriga. É, deve ser amor.
A mulher e o mercado
de trabalho nos anos 80 e 90
Minha infância
se passou no final dos anos 80 e início dos 90. Apesar de ter tido uma mãe bem
sucedida profissionalmente, muitas meninas da mesma idade ainda
tinham mães donas-de-casa naquela época. Na mídia, especialmente nas telenovelas e comerciais,
a imagem que se passava ainda era a de que as mulheres eram românticas,
sonhavam com um marido (“bom partido”, de preferência), de que o ápice da vida
de uma mulher seria o dia de seu casamento, de que eram elas as responsáveis
pelo lar, etc.
Já era uma
época em que as mulheres não enfrentavam relutância da sociedade em trabalhar
fora –salvo em certas profissões – mas suas atividades profissionais ainda eram
encaradas como sendo de menor relevância e direcionadas para ocupações
consideradas “femininas”: subalternas, de baixa remuneração e geralmente
ligadas a atividades de afeto. Não preciso lembrar que até hoje as meninas são
direcionadas para as áreas que não envolvem raciocínio lógico e liderança.
De todo modo,
os valores familiares ainda pregavam que o chefe da família era o homem; que
quem “botava comida na mesa” era o marido; que a mulher, se trabalhasse, visava apenas ajudar
nas despesas da casa. Daí obviamente surgia a noção, na mente das próprias
mulheres, de que prescindiam de um emprego que exigisse grande responsabilidade
ou grande remuneração. Poderiam ser secretárias ao invés de executivas,
professoras primárias ao invés de professoras universitárias, enfermeiras ao
invés de médicas...comissárias de vôo ao invés de pilotos.
Ser ou não ser comissária de vôo: eis a questão.
Aos 19-20
anos, já universitária, vivi um momento muito difícil, de muitas dúvidas, pois
não me identificava com a profissão que havia escolhido. Cogitei largar tudo e
fazer o que sempre amei, desde os 7 anos de idade: ser comissária de vôo.
Foi
quando finalmente procurei uma escola profissionalizante que desisti da idéia.
Os homens iam até aquele estabelecimento para aprender a pilotar aviões. Eu,
como mulher, estava indo para aprender a servir passageiros e tripulantes. Dentro
do avião, os homens eram pilotos; as mulheres, as “mocinhas bonitas” que
serviam as pessoas. Era um sentimento contraditório aos meus ideais feministas.
Comissárias de vôo e
mulheres de negócios: não são parecidas?
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O problema não é escolher uma profissão
subalterna. O problema é escolher algo porque se é homem ou mulher.
Quero deixar
claro que de forma alguma desmereço a importância das professoras primárias, enfermeiras
ou secretárias. Todas as ocupações são importantes e gozam de grande mérito. O
que coloco em questão é que existe uma incontestável estereotipia sexual de
profissões, e muitos homens e mulheres ainda escolhem suas carreiras em função
de códigos sociais e estereótipos de gênero.
A própria
profissão de comissário de vôo é um grande exemplo. É uma profissão tão
sexualizada, no sentido de generizada (gendered),
que até pouco tempo atrás era uma ocupação quase que exclusivamente feminina.
Felizmente, a flexibilização das diferenças de gênero possibilitou que muitos
homens adentrassem no ramo. Isso afetou até a denominação do cargo: passou a chamar-se
“comissário (a) de vôo”, e não mais “aeromoça”.
O perigo da sexualização de profissões.
Muitas
mulheres ainda não ousam enveredar pelas ciências exatas, mesmo tendo
habilidade para tal, por não se sentirem pertencidas àquele universo predominantemente
masculino. Muitas se contentam com o curso de Secretariado Executivo, quando na
verdade poderiam ter sido grandes empresárias e gestoras.
Em contrapartida, a educação dos meninos os afasta de ocupações com pouco prestígo social e baixa remuneração. A sociedade rechaça os homens que não correspondem ao ideal masculino de sucesso: rico e bem sucedido. Tendo isso em vista, muitos
homens amam a arte, mas optam pela carreira de Direito que a família tanto
espera. Muitos seguem infelizes na profissão de médico, pois na verdade
desejavam ser biólogos. Outros tantos cursam Engenharia, mesmo sem talento algum, apenas em função da identificação de gênero
(Parece brincadeira, mas muitos ainda seguem a lógica: “Sou homem. Logo, serei
engenheiro”).
Ser
médico ou biólogo? O status social conferido pela profissão de médico
certamente pesará na escolha dos homens.
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Identificações
e estereotipias de gênero sempre haverá. Todavia, o que espero é que sejam reduzidas ao máximo, especialmente no que tange às ocupações profissionais.
Só assim não veremos mais o simples fato de ser homem ou mulher restringir escolhas, sobretudo as profissionais. Só assim não veremos mais sonhos impedidos, desejos reprimidos, habilidades inutilizadas e talentos desperdiçados.
parabens muito complexo,eu estou com 19 e ainda nao me identifiquei tbm com uma profissao,penso como voce em relaçao a ser comissaria,ja fui fiz minha inscriçao mas tenho medo de fazer escolha errada,tenho um perfil serio,competente,falo pouco,até eu acho estranho isso,porque geralmente as mulheres falam muito,quero estabilidade,trabalhar feliz todos os dias e claro como todo mundo ganhar um salario bem renumerado tenho sorte que sou muito bonita isso da um pouco de confiança:) adorei sua pagina meu nome é andriele bjos
ResponderExcluirLegal o blog. Parabéns :) (poste mais)
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