domingo, 30 de outubro de 2011

Criança dançar na boca da garrafa, pode. Tocar guitarra, não.

Em agosto deste ano, em São José do Rio Preto-SP, um menino de 8 anos foi repreendido pela diretora de sua escola por ouvir heavy metal (leia aqui). Ele foi encaminhado à diretoria por estar batucando na carteira, fingindo que tocava bateria. Ao contar à diretora que seu sonho era tocar guitarra com o Iron Maiden, ela o desincentivou severamente, mostrando a ele imagens de capas dos discos da banda que, segundo ela, eram imagens associados ao demônio, satanismo e à morte. Segundo o menino, a diretora ainda disse que os roqueiros sacrificam animais, cortam cabeças e fazem pacto com o demônio. A diretora se defende, afirmando que quis despertar uma reflexão no menino. Segundo ela, este é seu trabalho, já que as imagens não têm mensagem positiva.

Não vou nem entrar no mérito da questão da generalização que se faz do rock, em que acreditam que é tudo a mesma coisa, sendo isso evidente até na forma como o chamam. Os desavisados jogam no mesmo “caldeirão” coisas extremamente diferentes: Rolling Stones, Iron Maiden, Dimmu Borgir, Guns n’ Roses, Limp Bizkit, Red Hot Chilli Peppers, etc. Para eles, é tudo a mesma coisa. É tudo “rock”. Mas o rock se desmembra em diversos estilos, e cada uma das bandas citadas acima pertence a um diferente. Uma de suas subdivisões, inclusive, é o metal que, por sua vez, também se destrinche em vários estilos, como heavy metal, heavy metal melódico, power metal, thrash metal, black metal, white metal, etc. Existe até o termo “metal barroco”, que se refere ao estilo interpretado por Yngwie Malmsteen. Mesmo assim, o metal, de forma geral, é sempre chamado de “heavy metal” pela grande mídia. Isto já é pelo menos um avanço, pois há não muito tempo ela o denominava ainda mais pobremente de “rock pauleira”.

O que quero dizer com tudo isso (e olha que eu disse que não iria entrar no mérito dessa questão) é que existem, sim, bandas que fazem apologia ao satanismo e afins. Mas isso é uma vertente bem específica do metal, mais precisamente do black e até death metal. Cada estilo tem suas particularidades, mas, via de regra, as letras das músicas falam sobre sociedade, subversão, histórias de civilizações, temas políticos, contos, mitos, relações amorosas (sim, metaleiro fala de amor). O próprio Iron Maiden, em torno do qual se criou a polêmica na escola, é um exemplo de banda cujas letras remetem, principalmente, a histórias e mitos. O oculto é, de fato, muito explorado por eles, mas de forma alguma se faz apologia ao satanismo ou algo do tipo.

Também não vou entrar no mérito da questão sobre a atitude da diretora de questionar as escolhas do menino. Na verdade, a ênfase que a mídia deu ao caso foi em relação à reprovável atitude autoritária da diretora, ferindo o livre arbítrio do aluno, julgando o que ele deveria ou não ouvir. Para mim, não foi esse o problema. Em tempos de visível perda de autoridade dos pais perante os filhos e da total desorientação destes em diversos assuntos, não me incomoda ver alguém tentar direcionar as opiniões e valores de um jovem; pelo contrário. O que me incomoda é o fato da diretora ter feito isso em relação aos pré-conceitos que tem em relação ao rock.

É impossível não perceber que o funk, axé e até alguma coisa do pagode, estilos musicais descaradamente apadrinhados pela grande mídia, exercem influência muito mais negativa sobre as pessoas, em especial as crianças. E é bem sabido que as escolas, sejam elas de qualquer nível sócio-econômico, incitam as atividades de dança desses estilos, aceitando inclusive as mais grotescas.

A questão é: por que questionar as atividades supostamente anticristãs de um aluno, e não fazer o mesmo ao ver meninas de 8 anos dançando na boquinha da garrafa? Como é possível acatar meninas que ainda levam lancheira da Moranguinho, mas ao mesmo tempo vão para a escola com calças apertadíssimas especialmente ajustadas para delinear seus corpinhos de manequim tamanho 16? Como se pode aceitar meninas que ainda nem menstruaram dançando funk e venerando mulheres-frutas? Como aceitar que meninas do jardim de infância deixem de brincar por causa do sapato de salto que usam? Como encarar com normalidade o fato de meninas de menos de 10 anos serem o público-alvo cada vez mais crescente de distúrbios alimentares e/ou já pensarem nas cirurgias estéticas que “precisam” fazer para se adequar ao padrão de mulher-objeto que elas recebem da mídia e das músicas grotescas que ouvem? Tudo isso é fortemente reforçado pelo brega-popularesco que é veiculado e reforçado pela grande mídia. E é muito assustador que pensem que seja o rock (mesmo o metal) o vilão.

A sexualização precoce é gritante e, embora os pais sejam os responsáveis pela educação de seus filhos, a escola tem o poder – e o dever – de intervir nessas questões. Por isso o que me chateia – e me preocupa- não é o fato de a diretora questionar as escolhas de um aluno, mas quais escolhas ela questiona e quais deixa de questionar.


Isso...

Iron Maiden

...é bem diferente disso...

Marduk, banda de Black Metal

Mas ainda é realmente pior do que isso?



Olhem que "gracinha" essas crianças super sexualizadas (e incentivadas pela mãe, que faz até closes nas partes íntimas das meninas. Tenha fôlego para assistir o 2:44)  dançando axé. Os comentários dos pedófilos na própria página do youtube (leia aqui) são super fofos também, nem precisa ser fluente em inglês e espanhol para entender.

Mas hei, pais!Deixem seus filhos longe do Iron Maiden!

17 comentários:

  1. Excelente post. As pessoas esquecem ou convenientemente desconhem que hoje existem meninas de nove anos de idade tendo menarca, crianças sofrendo para serem aceitas e buscando padrões dificeis até apra um adulto e o "gado" tudo normalíssimo, sinal dos tempos. Vivemos uma era de escravidão.

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  2. Vi seu texto no Whiplash. Infelizmente, matérias, opiniões ou comentários como o seu não são veiculados na mídia de massa, que é onde deviam estar. Parabéns.

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  3. Excelente artigo, parabéns

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  4. Eu sou fã do Iron, e acho patético da parte de vcs não falarem que mesmo indiretamente o Iron Maiden prega o satanismo sim. Hiprocrisia isso.

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  5. Post de alto nível, gostei muito mesmo, parabéns!
    recebi o link desse post no twitter do meu blog pelo Flight666.

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  6. Artigo maravilhoso,parabéns Bruna.É tão bom ver uma mulher falar sobre esse assunto,como roqueira me senti representada.Eu sofro com esse preconceito em minha própria "rodinha de amigos",eles falam que a música que eu escuto é ruim,é "do capeta",mais todos escutam funk,axé,sertanejo,pop,etc,e ficam,principalmente as meninas,"dançando na boca da garrafa",e quando eu uso isso para argumentar contra eles,rapidamente mudam de assunto,ou vem com aquele "aa mais é diferente né",mais ai eu pergunto "porque é diferente?me explica?",então rapidamente mudam de assunto ou não falam nada que tenha sentido.É incrivel como todos tem esse comportamente ridiculo,influenciado pela mídia,e depois querem ser moralistas cristãos,crucificando o rock,principalmente o metal,que mesmo quando fala de demonio tem uma ideologia por trás,diferente da música pop,que passa qual mensagem?rebole sua bunda ao máximo e seja famosa e rica?.As pessoas tem mesmo que rever seus conceitos,tem MESMO,e deixar a hipocrisia de lado.

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  7. "Anônimo disse...
    Eu sou fã do Iron, e acho patético da parte de vcs não falarem que mesmo indiretamente o Iron Maiden prega o satanismo sim. Hiprocrisia isso."

    Onde cara? Na música The Number of the Beast? Que é baseada em um filme? Engraçado que o filme todo mundo vê e acha legal, criativo.. acho que até sua mãe ou seu pai já tenham assistido.. eles são satânicos por causa disso né..??? Mais uma vez parabéns pelo texto e ignore esses comentarios analfabetos Bruna.

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  8. Muito obrigada a todos pelos comentários e pela ajuda na divulgação! Este texto está rodando a internet muito rápido e muitos estão tendo acesso a ele. Valeu mesmo!


    Os vídeos foram removidos do youtube por conter material propício para pedófilos, e tudo isso graças às denúncias dos leitores deste texto. Esse já é um grande passo para mostrarmos à sociedade que não é do rock 'n'roll que as crianças precisam ser afastadas, e sim dos ritmos brega-popularescos que nos enfiam goela abaixo pela televisão!

    Keep rocking! :p

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  9. Parabéns, Bruna! Boa postagem. Aprecio seu trabalho! Com uma abordagem inteligente voce vai direto ao ponto. Aguardo pelo próximo artigo he he he!!!

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  10. Oie Bruna! Chegando tarde mas chegando...

    Nossa seu texto está perfeito! Também não acho errado a diretora a escola intervir na questão da educação do menino, mas o que está errado ai foi no que ela estabeleceu como certo ou errado, infelizmente as pessoas ainda tem esse tipo de preconceito com o rock, que de satânico não tem nada hoje em dia, até Restart tem gente que fala que é "rock", imagine você...

    Bem essa professora então ia ficar de cabelo em pé por exemplo com o Metallica, até o Just for All eles tinham uma pegada meio misantrópica da vida.

    Mas pior que querer repreender aluno é querer se enturmar com eles e fazer isso errado!

    Lembro de uma professora que tentou puxar assunto comigo, eu usava uma camiseta do Iron, era a capa do The Number of the Beast, ela chegou falando que adorava "Airon Maidi" e que o cd favorito dela era o "The Númber of the Best".

    Eu rachei o bico né? The Number of the Best? O quê ela gostava do número 7? kkkk sei lá. Não entendi nada.

    abçs

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  11. Parabéns ótimo post apesar que curto Iron Maiden mais ótimo post

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  12. Realemnte, quem não conhece, pensa que rock é sempre a mesma coisa e até define como se tudo trouxesse mensagens diabólicas Mesmo o Black Metal não é, necessariamente, ligado ao satanismo. Há uma banda, não sei se vc conehce chamada Virgin Black. Quem ouve o som e v~e o visual logo pensaria que eles são satanistas, mas eles são uma banda Gospel! Assim cm P.O.D. e Korn são New Metal, mas Korn fala sobre estupros, traumas, e P.O.D. fala sobre Deus!

    Quanto as danças, tbm acho horrível! Quando criança eu dançava tudo isso, ma snão tinha a mínima idéia do que queria dizer!estava flando isso com uma amiga esses dias. As músicas de antes, ainda que falassem sobre sexo, não eram tão explícitas. Eu não sabia o que era "ralar na boquinha da garrafa", não sabia o que era "passar cerol na mão e aparar pela rabiola!", não sabia o que significava "Mãozinha para frente, bundinha empinada, vou dar o meu rolé na minha moto envenenada!", rs. Só os adultos sabiam, exatamente, o que aquilo queria dizer. Hoje não! Acho horrível ver criancinhas cantando e dabçando "Goza na cara, goza na boca, goza onde quiser!" entre outras coisas muito baixas! Não que elas tenham uma noção exata do que estão dizendo, mas nem a preocupação em camuflar mais, existe!

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  13. "Anônimo disse...
    Eu sou fã do Iron, e acho patético da parte de vcs não falarem que mesmo indiretamente o Iron Maiden prega o satanismo sim. Hiprocrisia isso."

    Meu filho, você sabe ler em inglês? Se não sabe, aprenda e LEIA AS LETRAS DAS MUSICAS, PELOAMOR!!!
    E ainda se diz fã de Maiden... me poupe.

    Enquanto a você Bruna, muitissimo parabéns pelo post!!
    Bem queria eu que todos tivessem uma mente como a sua.

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  14. muito legal seu comentario Bruna...

    Este preconceito de generalizar tudo vem na verdade da geração de nossos avos, e como depois de uma determinada idade a pessoa nao muda pra melhora mais ou nao tem mais predisposição a aprender sobre as coisas como elas sao realmente, estao confinadas a repassar este moralismo estagnado para a as novas gerações...E ai que fode tudo porque se a criança nao tem um pai para reeducar,cobrar dos educadores de escolas respeito com a educação do lar algumas ideologias ignorantes que deviam estar mortas continuam disseminando como erva daninha na mente destas crianças...

    parabens pelas suas criticas

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