domingo, 18 de outubro de 2009

Homenagem ao Miguelzinho

Embora eu tenha defendido no último post que tenho um tema e que, por isso, não falo sobre qualquer assunto, vivenciei um acontecimento que me fez mudar de idéia. Vou acrescentar a este blog o tema “Proteção aos animais”, coisa, aliás, que já defendo há algum tempo.

Meu cachorrinho chamado Miguelzinho foi atropelado e ficou gravemente ferido. Teve que retirar o baço, suturar o fígado e amputar uma das patinhas. Havia tido uma lesão neurológica e provavelmente não iria voltar a urinar e defecar sozinho, apenas com sonda. Milagrosamente ele não havia morrido na hora. Embora eu estivesse ciente dos riscos que ele ainda corria devido à gravidade do caso, acreditei que ele ficaria bem pois era um cachorro forte e parecia estar se recuperando. Infelizmente, este sábado ele não resistiu aos ferimentos e morreu.

Minha mãe, minutos antes dele morrer, disse a ele que, se ele estivesse sofrendo muito e se quisesse partir, que ele podia ir em paz. Não deu 20 minutos e ele arrancou tudo o que tentava mantê-lo vivo: o dreno, o soro, os curativos. Ele ouviu as palavras de minha mãe e optou por morrer, pois estava sofrendo demais. Lembrei, então, que todos os dias em que eu ia vê-lo na clínica, durante o período de duas semanas que ele lá ficou, eu dizia a ele que estávamos morrendo de saudades e que o estávamos aguardando em casa. Aí me dei conta da força das palavras que eu dizia a ele; ele só tentava permanecer vivo para não nos decepcionar, tamanho era o amor que ele sentia por nós.

Meu Miguelzinho morreu e saber que ele nunca mais irá voltar me causa uma dor inconsolável. Tudo o que eu queria era tê-lo de volta pra mim. O que me resta é esperar que ele esteja em um lugar infinitamente melhor que este, sem dores, com todas as patas, e alegre como sempre foi.

Mas o motivo pelo qual estou escrevendo sobre isso é outro. Como tive contato com a rotina diária de uma clínica veterinária, descobri coisas horríveis. Muitas pessoas abandonam seus animaizinhos porque eles foram atropelados ou porque ficaram doentes. Muita gente acha que animal de estimação é brinquedo: o querem apenas quando ele “funciona”. Quando o brinquedo “estraga”, não querem mais e jogam fora. Muita gente, aliás, só quer ter cachorro de raça. E o problema começa aí.

Sempre questionei quem só quer ter cachorro de raça. Em primeiro lugar, um amigo animal não se compra, se adota. Em segundo, existem milhares de cachorros abandonados à espera de um lar e de carinho. Desprezá-los e só querer cachorro bonito e de raça é até pecado.

Muitas pessoas pedem para o veterinário realizar eutanásia em seus cachorros só porque eles tiveram um ferimento. É claro que os médicos veterinários que aceitam realizar tal conduta não têm ética alguma - nem sentimentos. Felizmente, existem alguns veterinários que se recusam a realizar eutanásia nestes casos desnecessários e, geralmente, acabam adotando estes cachorros. (Que fique claro para quem não sabe interpretar direito e fica louco pra achar algo no texto pra criticar: não estou me referindo à eutanásia nos casos em que os animais não têm mais salvação, mas, sim, nos casos em que o cachorro só precisaria de uma ou algumas cirurgias, mas o dono quer fazer eutanásia só para não se incomodar, porque assim será mais fácil e barato).

Na gaiolinha ao lado da do Miguelzinho, tinha um cachorrinho que havia sido atropelado por um caminhão e que, por isso, teria que realizar cirurgia nas pernas, na bacia e no quadril. Embora a cirurgia na bacia fosse complicada, ele iria ficar bem, e nem sequer iria precisar amputar as patas. A dona deste lindo e inocente cachorrinho pediu à veterinária para matá-lo. Ela se recusou a fazê-lo, afinal, estudou 5 anos para salvar animais, e não matá-los. Infelizmente, a dona do cachorro o tirou da clínica e desmarcou a cirurgia. Provavelmente foi procurar outro veterinário – algum monstro sem ética nem sentimentos – que concordasse em matar o cachorro. Quando lembro dos lindos olhinhos castanhos daquele cachorrinho olhando pra mim, me dá uma tristeza que se soma à tristeza de ter perdido meu Miguelzinho. Tristeza porque tudo o que aquele bichinho inocente queria era viver, amar e ser amado. E a pessoa que deveria amá-lo – sua dona – queria assassiná-lo porque assim seria mais fácil. Se eu soubesse onde essa mulher mora, iria até lá dizer coisas a ela que a fizessem ver o quão ruim ela é. Gostaria que um dia ela quebrasse as pernas e que sua família sugerisse ao médico para matá-la de uma vez, afinal, “assim seria mais fácil e barato”.

A lembrança do lindo olhar daquele cachorrinho, suplicando apenas por ajuda e carinho – que agora provavelmente está morto, assassinado por sua própria dona – me assombra e fortalece minha tristeza decorrente da perda do meu Mig.

Estou tranqüila porque sei que fui capaz de amar verdadeiramente o meu animalzinho, coisa que muita gente jamais será capaz de fazer. Muitos amam só quando o cachorro é de raça ou enquanto estão saudáveis, o que, justamente por isso, não pode ser considerado amor.

Estou sofrendo muito pelo Miguelzinho porque ele morreu e nunca mais irá voltar pra casa. Mas agora sofro, também, por todos os demais cachorros que estão vivos em suas casas acreditando que são amados por seus donos, mas cujo amor não passa de uma ilusão.

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